Assumo que alguns de meus medos em São Paulo foram sanados.
Eu comecei a perceber que existem seres realmente humanos nesta cidade. Sentimentos que estão escondidos atrás de faces apressadas e aparentemente indiferentes. Na verdade o sorriso, o "bom dia" ou até mesmo o aperto de mão, têm que partir de você.
Outro dia destes, estava eu no ônibus, lotado, quando uma senhora de cara emburrada e com sinais de sono embaixo dos olhos, me fitou, simulou um sorriso e me desejou bom dia. A partir daquele momento comecei encontra-la todos os dias no ônibus. Ela me fala sobre sua vida, de seus desejos e dificuldades. Acabei em tornando um consultor terapêutico, e de forma alguma isto me incomoda.
Além do fato ocorrido com esta senhora, eu presenciei uma cena que me surpreendeu: Era horário de pico. Uma garota aguardava o semáforo abrir ao meu lado. Por entre as pessoas saiu um cachorro sarnento, e como nem todos paulistanos, sendo eles racionais ou não, sabem que é necessário aguardar o homemzinho verde aparecer para que possamos passar com segurança, o animal saiu em disparada entre os carros, e ficou perdido com o movimento de ir e vir dos veículos. A menina ao meu lado, começou a gritar em desespero ao cachorro. Assim que o semáforo abriu, ela foi em direção ao cachorro, passou a mão em seu pêlo ralo e falho, deu um sorriso de aprovação que ele estava bem, e continuou seu caminho.
Comecei um processo de dar credibilidade a São Paulo. Acreditar na bondade das pessoas e no meu ânimo de viver. E repito existem sentimentos escondidos atrás de faces apressadas e aparentemente indiferentes.
Próximo post: Comentários sobre o primeiro capítulo de Alice. "Talvez valha mais uma Alice voando, do que mil Alices com os pés no chão…”