sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Atrás de cada face, há uma história escondida.


Assumo que alguns de meus medos em São Paulo foram sanados.
Eu comecei a perceber que existem seres realmente humanos nesta cidade. Sentimentos que estão escondidos atrás de faces apressadas e aparentemente indiferentes. Na verdade o sorriso, o "bom dia" ou até mesmo o aperto de mão, têm que partir de você.
Outro dia destes, estava eu no ônibus, lotado, quando uma senhora de cara emburrada e com sinais de sono embaixo dos olhos, me fitou, simulou um sorriso e me desejou bom dia. A partir daquele momento comecei encontra-la todos os dias no ônibus. Ela me fala sobre sua vida, de seus desejos e dificuldades. Acabei em tornando um consultor terapêutico, e de forma alguma isto me incomoda.
Além do fato ocorrido com esta senhora, eu presenciei uma cena que me surpreendeu: Era horário de pico. Uma garota aguardava o semáforo abrir ao meu lado. Por entre as pessoas saiu um cachorro sarnento, e como nem todos paulistanos, sendo eles racionais ou não, sabem que é necessário aguardar o homemzinho verde aparecer para que possamos passar com segurança, o animal saiu em disparada entre os carros, e ficou perdido com o movimento de ir e vir dos veículos. A menina ao meu lado, começou a gritar em desespero ao cachorro. Assim que o semáforo abriu, ela foi em direção ao cachorro, passou a mão em seu pêlo ralo e falho, deu um sorriso de aprovação que ele estava bem, e continuou seu caminho.
Comecei um processo de dar credibilidade a São Paulo. Acreditar na bondade das pessoas e no meu ânimo de viver. E repito existem sentimentos escondidos atrás de faces apressadas e aparentemente indiferentes.


Próximo post: Comentários sobre o primeiro capítulo de Alice. "Talvez valha mais uma Alice voando, do que mil Alices com os pés no chão…”



5 comentários:

Karla Hack dos Santos disse...

Não importa quão frenética esteja a cidade...
Há sempre vida por de t~rás daquela loucura!
Gostei muito do texto!

;DD

bjus

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Bom, li seu relato e acredito que o medo do Paulistano é exatamente o mesmo, só que ao contrario " Rsss.. Vou explicar.... Acredito que o maior medo de um interiorano é vir para São Paulo e se sentir pequeno , entre tanta gente “acelerada”, perto de arranha-céu’s gigantescos, entre outros. Porém, tive essa experiência, só que como eu disse, ao contrário. Nasci e moro em São Paulo, nunca tive a oportunidade de conhecer um outro local, diferente dessa “loucura” de cidade em que vivo. Fui para uma pequena cidade do interior de São Paulo, perto de Aparecida. Lá percebi que todos são um tanto atenciosos, o suficiente para todos saibam quem é quem, e até mesmo o que esse “quem” fez sua vida toda. Sabem desse “quem” seus maiores segredos, seus medos, seus sonhos, suas histórias....

Após essa experiência, percebi que em São Paulo as pessoas são agitadas, tão agitadas que as vezes não se dão conta que vários “quem” estão lá, ao seu lado. Isso me deixou mais aliviado, pois sei que sendo um “quem” aqui, poderei guardar meus segredos, meus sonhos, meus medos, minhas histórias.

Fábio Flora disse...

Esses pequenos flashes de São Paulo são luzinhas no final do túnel...

Fabio S. disse...

Adorei o texto. Eu acho que as pessoas não são insensíveis, estão apenas com pressa demais para reparar no outro. Parabéns pela narração!